quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Tecnologias da Informação e Comunicação


WIKIS E O HIPERTEXTO COLABORATIVO


O avanço das tecnologias da comunicação e informação (em especial a internet) oferecem novos espaços para interações discursivas, fazendo com que a leitura, redação ou edição de um texto seja resultado de uma interação sociocultural, ou seja, a produção e a conclusão do texto depende da relação estabelecida pelos interlocutores.
Ao se discutir o fenômeno dos wikis, faz-se necessário contextualizarmos a discussão sobre o conceito de hipertexto. Que para alguns autores hipertexto é compreendido como uma forma de apresentação da informação, que permite ao leitor um acesso ao mesmo tempo fragmentado e articulado a outros trechos do texto, o que independe do suporte em que a informação é publicada.
Segundo Marcuschi (2005, p.186) “o hipertexto não é um fenômeno do meio estritamente eletrônico, ou exclusivamente do mundo digital” reafirma esta posição relacionando que, uma enciclopédia em papel, portanto, pode ser considerada uma produção hipertextual, uma vez que, ao final de cada um dos verbetes, são feitas referências a outros fins que dão ao leitor a possibilidade de continuar a leitura, ainda que o verbete esteja em outro volume da publicação.
Partindo do ponto de vista acima citado, pode-se afirmar que não necessariamente o hipertexto tem o mesmo funcionamento nos suportes impressos e digitais. Nestes, especialmente na WWW, o hipertexto assume uma característica especifica: a interconexão imediata entre os elementos associados pelo hipertexto, algo tecnicamente inviável nos textos impressos e agora viabilizados através dos hiperlinks, ou simplesmente links. Esse recurso facilita a interação de diferentes fontes de informação, ampliando e explicitando a natureza intertextual que todo texto carrega em si.
A possibilidade de “navegar” pelo texto, escolhendo, a partir de um menor ou maior número de variáveis, os caminhos a serem percorridos através dos links, impulsionou uma discussão sobre a possível mudança nos papéis distintos tradicionalmente assumidos por leitores e escritores.
Um modelo de produção de informações baseado na polarização entre escritores e leitores, anteriormente o padrão na internet, vem aos poucos sendo rompido por uma nova geração de sites denominada por O’Reilly (2005) de Web 2.0. Mais do que uma revolução tecnológica, a Web 2.0 representa uma mudança na proposta comunicacional dos sites, neste contexto, o leitor torna-se potencialmente um interlocutor que interfere diretamente sobre o conteúdo apresentado pelo site.
Baseado num ambiente Web, a principal característica de um sistema Wiki de publicação é a possibilidade de qualquer visitante (cadastrado ou não), a qualquer momento, alterar qualquer informação publicada em um artigo, bastando acessar a página Edição vinculada a cada página. Imediatamente, a edição do texto é publicada e será considerada a versão atual até que outro visitante altere o texto produzido pelo usuário anterior. A mais famosa e bem sucedida experiência no sistema wiki é a Wikipédia (WWW.wikipédia.org/), uma enciclopédia “livre e aberta” que permite a edição por qualquer interessado. A Wikipédia é um dos projetos mantidos pela Wikimedia Foundation, responsável também por outras iniciativas em português, como o Wikicionário (dicionário no qual os significados das palavras são escritos coletivamente), Wikilivros e Wikinotícias (produção de livros e notícias, respectivamente).
O software wiki possui diferentes versões disponíveis para download gratuito na internet, o que permite que seja instalado em qualquer servidor e apropriado para diferentes fins. Entre as centenas de wikis em funcionamento no mundo atualmente, podemos destacar seu uso corporativo, por exemplo, o GMNext (http://gmnext.com/wiki/), mantido pela General Motors, e o projeto Open Educacional Resources (http://oerwiki.iiep-unesco.org/), proposto pela UNESCO.
Na Wikipédia, assim como em outros sites baseados na ferramenta Wiki, os colaboradores não tem direitos intelectuais sobre o texto, ao contrário das regras que regem a produção textual em grande parte dos suportes impressos e mesmo eletrônicos. Todo o conteúdo produzido na Wikipédia esta ligado a Licença GNU de Documentação Livre, o que garante a livre reprodução e distribuição das informações ali publicadas. O fato de os contribuintes não serem “donos” do texto que co-produziram não significa, no entanto que sua participação seja anônima. Toda colaboração textual aos artigos da Wikipédia é creditada ao autor, fica armazenada na página História é associada ao número de IP do usuário ou ao login criado pelo wikipedista. É importante destacar que os Wikis não são a única plataforma disponível na internet que possibilita a produção coletiva de conteúdos. Ao permitir que os visitantes comentem os posts, os blogs são também ferramentas colaborativas, ainda que não seja possível interferir diretamente na produção inicial do autor. A disseminação desse modelo de produção colaborativa é registrada por Xavier (2005, p.4), que destaca o “crescimento da participação de outros interlocutores na ‘composição coletiva’ e as vezes, simultânea de textos na internet como acorre com os chats (...), bem como acontece com as hiperficções colaborativas (...)”. Tampouco a produção coletiva de textos não foi inaugurada pelos Wikis ou pela internet.
O contexto social e as ferramentas tecnológicas da atualidade, no entanto, oferecem condições para que este modelo de produção ganhe proporções jamais vistas. Um sistema Wiki, acredita-se, é o que mais se aproxima de um novo modelo de leitura e produção textual alardeado por vários estudiosos do hipertexto. O sucesso da produção coletiva de textos a partir dessa ferramenta depende essencialmente do engajamento dos usuários, que, conscientes das possibilidades de intervir em um texto, devem sentir-se motivados para consertar uma informação errada que tenha sido identificada, ampliar um texto ainda em estágio inicial ou ainda editar um conjunto de frases desarticuladas, buscando dar coerência ao texto. Como afirmamos em d’Andréa (2007:14), “ a participação em sites da Web 2.0 tem também um caráter ético e político na intervenção social”.

Referências:

Hipertextus revista digital – artigo WIKIS E O HIPERTEXTO COLABORATIVO
Carlos Frederico de B. D’ANDRÉA
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)